quarta-feira, 5 de março de 2008

Do Encantamento pelo Mundo Pequeno

Logo que cheguei de viagem, pensei em escrever sobre algum aspecto interessante dela; nada, todavia, me veio à mente. Decorrido então pouco mais de uma semana do retorno, a saudade bateu e o motivo desta é o tema do texto. Passei uns cinco dias em Veranópolis na Serra Gaúcha com mais duas amigas entre outras companhias. Cidade com pouco mais de vinte mil habitantes, sem sinaleira, shopping, transporte público e formigueiros humanos. Pacata, limpa, quieta, devagar. Em outros tempos acharia isso tudo muito mais chato que prazeroso. Desfrutar da tranqüilidade e do cantar dos pássaros era impossível, sendo sempre muito entediante. Percebo agora que a saudade é o sinal de que mudei de opinião. É certo que a novidade que representa uma cidade desconhecida e a presença de amigas em vez de meus familiares são fatores que atenuam a abstinência das maravilhas práticas e tecnológicas do mundo urbano. No entanto, acho que precisava de um descanso das outrora tão ovacionadas qualidades da metrópole global. Estar em contato com todos a qualquer momento, ser bombardeada por informações de todos os assuntos possíveis, ter a possibilidade de escolher mil e um programas a fazer, entre vários locais diferentes os disponibilizando. Ter o privilégio de pesquisar preços entre a concorrência de supermercados, lojas, postos de gasolina... e a oportunidade de optar entre várias instituições de ensino, vagas de emprego, locais de moradia. O fantástico mundo urbano, cheio de facilidades, asfalto e glamour. O conjunto de tudo que o homem contemporâneo precisa para viver. Trabalho e lazer lado a lado. Porém chega um momento que tantas informações, oportunidades, pessoas saturam o cérebro. Tudo isso nos obriga involuntariamente a pensarmos o tempo todo, a medirmos os custos de oportunidade a cada precioso minuto. São tantos os problemas a resolver, os jornais a ler, os amigos a visitar, os eventos a comparecer. O tempo passa rápido e nunca estamos plenamente satisfeitos com a forma que o utilizamos. Chuva naquele passeio no parque no fim de semana é o fim, por que cargas d’água não fiquei em casa adiantando o trabalho? Há pouco tempo para planejar, pensas antes de agir, o que aumenta as chances de erros e esquecimentos, contribuindo para o carregamento de estresse e rugas. O tempo não pára.

Na Serra, em lugar do computador havia uma paisagem linda; da multidão, árvores; dos carros, bicicletas. Longe da poluição do ar, sonora, visual... o que resta é a despreocupação. É a obrigação de apreciar doces coloniais, quedas d’água, clima ameno, pessoas simpáticas, vinho doce... Sem o risco de ser encontrado pelos cobradores de dívidas e satisfações, o tempo é livre para libertar a mente. Ler romances, ouvir rádio, assistir a programas televisivos desprovidos de cultura útil, jogar cartas. Fazer nada, pensar em nada. Nem mesmo onde comprar, o que fazer, dado as poucas opções que a pequena cidade oferece. Essas qualidades são quase que exclusivas delas; quero dizer que não há lugar para tais atributos na cidade grande, incompatibilidade de estilo.

Mas há uma característica que cairia como uma luva para o mundo urbano brasileiro: a segurança de se caminhar na rua em qualquer horário. Além de termos de enfrentar todo o problema da distância entre os locais na cidade grande, o que envolve trânsito congestionado e ônibus lotado; de termos que conviver com o lixo nas ruas, riachos imundos e pedintes por todas a parte. Por cima de tudo isso está a privação da liberdade de ir e vir. Vivemos reprimidos pela constante ameaça daqueles que optaram pela vida criminosa. Assim, além de andarmos com a cabeça cheia com as tarefas a cumprir, ainda devemos estar sempre alerta, desconfiados daquele que nos cercam. Em meio à multidão, estamos cada vez mais individualistas por causa do constante receio. Como se rondados por forças do mal, tentamos formar um campo de força para nos proteger, assumindo uma postura indiferente. Fora do nosso círculo de conhecidos, estamos sós, ou melhor, acompanhados pelo perigo.

É difícil escolher entre a vida corrida, cheia de ruas a visitar, da cidade com a pacificidade e a liberdade de corpo e espírito da Serra. Quando o que mais importa é o sucesso material, objetivo de todos os integrantes da sociedade consumidora, estar perto dos grandes centros é primordial. Mas fico pensando se para viver um amor – seja pela mpb, ou seja lá qual for – é preciso algo a mais do que sossego. Acho que não. Considerando que o amor faz par com a felicidade, adeus mundo urbano, pelo menos enquanto a paixão durar.



Vitrola: Quando um homem tem uma mangueira no quintal

4 comentários:

Anônimo disse...

muitos claps!
me emocionei toda logo de cara!
hehehehh
bem legal o texto, Bruna!
e dale pentacolor!!
bjooo

Anônimo disse...

nostalgia de um não-sei-o-quê.

enfim, a mais pura das verdades.

bjoo bjoo

Anônimo disse...

Ai que bucolismo....



e vinho quente é para os fracos. =D

Bjin

Anônimo disse...

nao tenho mta criatividade para posts..
mas soh pra dizer q eu to acompanhando sim
e q nao vou abandonar o blog (:

BjO;*