quinta-feira, 23 de julho de 2009

Depois da Bonança

Quando criança
Mamãe sempre dizia
- Não fale com estranhos!
Que perigo tamanho
- Não aceites nada, doces ou balas
Com terror, assustava

Agora, moça crescida,
O alerta é outro
Não vás sair por aí, assim, se apaixonando
Que mágico encanto
Do sonho te mostra o contorno
E a seu redor orbitarás em torno

Elevarás os pés do chão
Nem sentirás desprender-te a alma
Sua mente perderá a razão
E os pensamentos aprisionados ficarão
Explosões de adrenalina retiram-lhe a calma
Impaciente, desprende inquietude em sua aura

Meu bem, sentes o mel, que azedo?
Em vão toda a beleza que exorta
A esperança aos poucos se entorta
Avulta a ilusão, toma sua forma
Perdida e enfeitiçada, tremes de medo
Que caminho funesto!

Não queira enfeitiçar-se por olhos belos
Fenecerá de espera sem sentido
Te apegarás e não encontrarás abrigo
Boba de sofrer por algo que não te toca
Por alguém que nem te dá tanta bola
Mereces mesmo o castigo




Vitrola: Transfiguração.

domingo, 19 de julho de 2009

Trade-off

Par de objetivos igualmente impossíveis de atingir simultaneamente:
1) combater a inflação e o desemprego;
2) combater a caspa e hidratar o cabelo.

quarta-feira, 15 de julho de 2009

Vênus

O que faltaria àquelas suntuosas que de nascença são. Que com vigor amadurecem; da beleza a imensidão. É com tamanha destreza que encantarão o caminho por que passam. Em realidade, seria esse seu maior contentamento. Encher os olhos, até causar em mentes confusos tormentos. Deleite. Ornamentos serão poucos para saciar a vaidade desse ser de natural formosura. Atente para o descomunal andar nos pés de salto, esbanja desenvoltura. Sutilezas que não causarão sobressaltos, mas que enfeitiçarão desavisados. Buscam encher-lhes o peito de vontades, até chegar o momento da derradeira verdade: atrair o que lhes falta, aquela voluptuosidade.
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Vitrola: Bete Balanço.

domingo, 12 de julho de 2009

Do Astro Rei


Um pouco tarde pra falar da morte. Talvez não. Nunca será tarde para trazer à tona o eterno rei da música, o fenômeno da música pop.

Michael é uma incógnita para todos nós. É extremamente triste pensar que o maior astro da música pop, amado por milhões de pessoas ao redor do globo, era uma pessoa infeliz. O complexo com a aparência o transformou em uma pessoa completamente estranha à que fora durante sua infância. Colocando as imagens uma ao lado da outra, desinformados diriam que não se trata da mesma pessoa. Mas será mesmo que Michael se transformou em outra pessoa ao longo de sua bem-sucedida carreira musical?


Podemos notar que o sorriso, a alegria em cantar e dançar é da mesma sinceridade, tanto no Jackson criança quanto no adulto. Michael sempre pareceu à vontade e feliz diante das câmeras e dos espectadores. A forma como interpretava a música com seus passos de dança perceptivelmente apontam para a evolução que se seguiu da criança para o adulto.

Michael mudou a cor de sua pele, a fisionomia de seu rosto, mas é inegável sua alma de estrela proveniente do subúrbio. O ritmo e o swing característicos dos aglomerados de famílias negras dos guetos estadunidenses estiveram presente em toda a sua carreira, sendo o que fez com que o mundo caísse a seus pés; o que deu vida a um novo gênio musical, potencializando a música pop; e o que contribuiu para o crescimento da indústria de entretenimento, diminuindo as distâncias para a difusão da cultura por todo o globo.
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Quando relaciona-se a transformação física de Michael com a percepção de que segue-se a manutenção de uma divisão racista da sociedade: pobre, portanto negro; rico, portanto branco, Michael expõe a sua grandiosidade ao grava um videoclipe no Brasil acompanhado do Olodum: uma massa de instrumentistas negros que o circundam, como se fosse um Jackson 5 ampliado. Michael mostra em sua música a fragilidade de pessoas pobres, que vivem em condições parcas e, em vez de mostrar a imagem de sua vitória por sobre a situação daquelas pessoas, parecida com a de sua infância, o astro-rei se coloca no mesmo conjunto delas: they don’t care about US (eles não ligam pra gente). Mesmo branco e rico, Michael nunca negou suas origens, pois sabia que seu talento vinha de onde ele veio. Pensar na indiferença com que pobres e negros são tratados certamente não ela algo difícil para ele. Apontar para esse fato lamentável das sociedades é sinal da preocupação e da generosidade de Michael Jackson, que, tendo vencido, se importava com que as outras crianças também se salvassem da pobreza e da indiferença.

Por isso, além do seu talento inato que derrubou barreiras com seu carisma, Michael Jackson também é rei pela humanidade que trazia em sua alma. É realmente lamentável pensar que tamanha estrela tenha passado seus últimos anos no ostracismo, quando trouxe tantas alegrias ao mundo. Prefiro ficar com as imagens de seu sorriso no placo, tradutor de uma alma cativante, que o tornaram único e inesquecível.

Vitrola: They don't care about us.


quarta-feira, 8 de julho de 2009

Sept

Há sete ímpetos proibidos de se deixarem extravasar pela igreja. Os famosos sete pecados capitais. Inquietante é o fato de eles serem equivalentes em termos de pena. Sinceramente, não vejo como comer demais possa ser tão ruim quanto menosprezar a existência alheia, por exemplo. Além disso, a soberba é, de alguma forma, inerente de certos seres e a gula é compartilhada pela quase totalidade dos seres humanos. [ocidentalismo detected].

Por isso, questiono essa lei da igreja. Preguiça, gula e luxúria são supostas faltas que todos cometem e que não causa muitos danos à sociedade. Tudo bem que as leis da igreja foram formuladas há séculos e que a preguiça poderia atravancar o desenvolvimento cultural e intelectual da humanidade. Mas, atualmente, parece que a preguiça virou a exceção da vida das pessoas. Nesses termos, tendo em vista aproveitar um pouco a vida, sentir-se vivo, acho que um momento de preguiça é indispensável, afinal o ânimo e a boa vontade são por ela renovados, assim como a disposição para o trabalho.

Bem, a gula é algo impossível de combater por quem vive em ambientes gélidos, como eu. Além disso, como comemorar grandes conquistas sem um ótimo banquete? Pessoas felizes de seus feitos comem vigorosamente e convidam outras para compartilhar tal prazer; que mal há nisso? Cada um tem as informações necessárias para saber o que faz bem a sua saúde. E não venha com a história de que pessoas estão morrendo de fome. Certamente elas estão, e cada vez mais, infelizmente. Mas a comida que deixares de comer não entrará automaticamente na cesta de bens das famílias miseráveis, certo? Não faltam alimentos no mundo para que todos possam se entupir de comida, podemos fazer doações e ao mesmo tempo vivermos na fartura. A gula, portanto, não afeta ninguém.

Já a soberba é coisa de gente malvada, que por seus atos diminui a importância da vivência alheia. Seu prazer é menosprezar ou desprezar os outros, o que não incentiva o desenvolvimento coletivo da humanidade, pelo contrário. Sem mutualismo todos perdem um pouco e o arrogante ainda se torna infeliz, por afastar possíveis amigos. É um pecado desagregador, vil. Bleh.

Avareza é o que menos identifico em minhas observações, mas é igualmente egoísta, desagregador e desumano. O que sobra de nós cheios de bens materiais e sem calor humano? Reprovado.

A inveja é algo que todos nós sentimos pelo menos um pouquinho em determinado momento. Querer mal a outra pessoa por que esta possui aquilo que não temos é um erro. Não soluciona o problema do invejoso e cria outro – promover o mal a outrem. Não é uma boa linha de raciocínio a seguir.

Ira, colocaria no meio da balança. Claro que não é bom desejar o mal aos outros, como no caso da inveja. Ter vontade de xingar, violentar, enfim, perder a diplomacia, partir para a irracionalidade. Mas, ainda assim, é uma forma de expressar certa inquietação por uma pessoa e dar-lhe relevância. Pior que tudo mesmo é a indiferença. O ódio aparece quando o amor está mal resolvido, é coisa do coração e, portanto, nem tão mal assim, apenas passível de reparação.

Por fim, a luxúria é como os “pecados do bem”. Como a gula e a preguiça e, mesmo que a igreja negue, é um meio de a humanidade sentir prazer na vida e, ainda, perpetuar a espécie e criar o amor familiar. Talvez por isso que Deus [ou seja lá qual for a força cósmica que rege o universo] tenha criado tal atração sedutora.

Sendo assim, acho que nada é mais recomendável à vivência da humanidade que boas doses de preguiça, gula e luxúria [e atire agora quem sinceramente discorda!] De que mais precisamos para nos sentirmos felizes?


Vitrola: You know i'm no good.