sexta-feira, 5 de setembro de 2008

Mais uma do amor

Transpassar a barreira da indiferença, do desprezo, do drôle, adotando aquele ente da multidão, que é igual a todos, tão indeciso, tão bobo, tão ignorante, tão... qualquer coisa. É uma benção recebida, a alma iluminada com a missão de elevar o ego, de santificar, de querer ajudar, de se preocupar. Dividir-se de graça, tornando-o único. Largar tudo, passar por cima dos valores, dos horários, de si mesma. Apegar-se, de repente, sem razão. Vem dos céus ou do perfume das flores. Salvação daquele que ninguém vê; distingui-lo, cor e brilho na sua aura que de repente fica encantada, dando sentidos para sua vida.
---------------------------------------------------------------------------------------
Vitrola: Teu Nome mais Secreto

terça-feira, 2 de setembro de 2008

Botão de Flor

Nenhuma mulher consegue ser mais apaixonada, romântica e devotada ao parceiro do que ela!
Ela sempre estará presente para sufocá-lo com seus beijos apaixonados ou envolvê-lo em um abraço quente e gostoso! Carinho e atenção nunca são poucos quando se trata de agradar seu amor. Nos dias de frio ela cobrirá suas pernas com um cobertor bem grosso e se deitará ao seu lado para assistirem à televisão. Quando sentir que seu companheiro está triste, fará de tudo para agradá-lo e não faltarão palavras de incentivo e encorajamento. Poucas são as aquelas que costumam reclamar dos maridos ou namorados. Não que elas achem que são perfeitos ou que sejam cegas para seus defeitos! Elas simplesmente preferem guardar os defeitos dentro de quatro paredes e exaltar suas qualidades. Se ela começar a criticar seu parceiro, é porque está muito magoada e ferida.
Quando estão apaixonadas, costumam falar de seus amados a maior parte do tempo.
Há duas maneiras distintas pelas quais ela costuma agir quando está apaixonada. Na primeira, se apresenta tímida, delicada e feminina. Na segunda ela é mais ardente, direta e agressiva. Nestas horas ela fará de tudo para conquistá-lo, não medindo esforços para agarrá-lo. Pode esquecer a moça tímida e comportada quando ela resolve atacar. Ela vai parecer mais uma leonina do que uma moça do signo da lua.
Existem algumas coisas que jamais devemos fazer quando se trata dela.
Ela odeia ser criticada, fica profundamente magoada com ingratidão e não suporta ser repelida. As feridas criadas por um amor que acabou, podem deixá-la tão deprimida que levará anos para esquecer totalmente o que aconteceu. Ela se entrega por inteira, dedica todo seu amor sem saber o que significa limites, faz qualquer sacrifício para ficar ao lado de quem ama, e não suporta a dor de uma perda sem sentir que acabou de perder uma parte de si.
Também não leia seu diário ou vasculhe suas coisas em busca de segredos que guarda do mundo. Ela gosta de guardar segredos e não é muito de fazer confissões. Para ela segredos são segredos e não devem ser mostrados. Para tirá-la do sério basta invadir suas intimidades.
Ela é muito ciumenta e possessiva.
Nunca brinque com seus sentimentos se quiser viver em harmonia e não ganhar uma inimiga. Apesar de parecer inofensiva, a canceriana pode ser muito pior que a mulher de escorpião quando se sente traída! Ela pode perdoar muitas coisa, mas a traição não é uma delas. Todo aquele amor morre e se transforma em ódio da noite para o dia!
Esta mulher quase sempre costuma se preparar para o pior: se o dia está claro, ela já imagina se uma tempestade virá.
Outra coisa que deve se preocupar é com suas crises de depressão. Ela pode ser linda e maravilhosa, mas mesmo assim não será raro presenciar uma de suas crises onde se julga gorda e velha! Quando as coisas não acontecem como ela quer, pode derramar rios de lágrimas. Porém, sua atitude mais comum será cruzar os braços e aguardar que as coisas voltem ao normal. A paciência é uma de suas virtudes mais admiráveis. Mas, se sua depressão for muito profunda, você tem que arranjar um jeito de tirá-la de si mesma. Se palavras de carinho e incentivo não derem resultado, tente dar um grito e socar a mesa para ver como ela se recupera rapidinho! Tudo bem que ela vai ficar com raiva o dia todo, mas é melhor do que vê-la amuada durante todo um ciclo da lua minguante!
Mas não se deixe enganar por esta mulher que muitas vezes parece ser frágil e carente.
Ela sabe muito bem cuidar de si mesma e pode ser muito forte e determinada! Ela nunca é fraca, só escolhe fazer este papel de donzela. No fundo ela é uma guerreira que se revela uma vencedora nos momentos em que tem de enfrentar o mundo! Muitas pessoas que pensam que podem vencê-la facilmente acabam tendo uma péssima surpresa quando percebem que acabam de comprar uma briga com uma mulher fria, forte e determinada! Se ela entrou em uma briga foi para ganhar, não para fazer figuração!
Ela jamais se deixará abater quando as coisas ficarem realmente ruins, e parecerá mais um rochedo do que uma donzela frágil. Se algo ameaçar os filhos ou aqueles que ama, esta mulher se tornará uma fera pronta para enfrentar o mundo! Seu afeto e compreensão sempre serão a força revigorante que todos precisam quando estiverem deprimidos ou fracos. Eça sabe como ninguém levantar a moral de alguém, pois conhece todos os caminhos que levam à alma.
Outra coisa que as cancerianas possuem é um certo magnetismo, uma beleza que enfeitiça o mais duro coração.
Por mais linda que seja, seu rosto sempre será mais evidente que seu corpo porque ele irradia luz. Por ser um signo de água e regida pela lua, sempre parecerá muito mais bela sob os raios da lua cheia. Quando um homem fala sobre a sua beleza, ele nunca saberá explicar se ela é exterior ou interior. Afinal, o que pode ser mais belo, um corpo deslumbrante ou uma alma de deusa?




Vitrola: Amado


(esse não é meu, mas sobre a autora).

sábado, 16 de agosto de 2008

Moon

Envolta por uma aura, iluminas de forma instigante, deixando a noite misteriosa. Cheia de sugestões, movimentos atrativos pelo simples fato de serem apenas vultos.

Por que me inspiras tanto? Por que desperta-me sensações e vontades? Do outro lado não há nada. Um convite para me levar ao encontro do encanto que sugeres. Não consigo te decifrar, descobrir o véu que esconde o segredo dos sonhos, que revela a face do descomedido. Entre tantos telefones e teclas; e faróis e gentes sorridentes, por que não me observa um sequer na multidão? Não haveria uma viva alma te admirando?

Ah, Lua, por que não me tragas logo para tua dimensão? Por que não me levas para viver alheia da realidade? Mergulhar na fantasia, onde me sinto tão feliz, onde crio o plano perfeito para extravasar meus sentimentos. São tantas as emoções guardadas, que aguardam e resvalam na realidade sórdida.

Não te vás, não me deixes aqui sozinha – tenho medo. Eu já vivo no teu mundo.


Vitrola: Tatuí

quinta-feira, 7 de agosto de 2008

Dos Sentidos

Ele tenta, ela tenta.
Ele tenta, ela tenta.
Ele tenta, ela tenta.
É tanta tensão.

(Tictac-tictac-tumtum-tic-tum-tic-tac-tum-tum-tumtumtum)

Ele tenta ela; ela tenta ele.






Vitrola: Seu Pensamento

quarta-feira, 30 de julho de 2008

Do Infortúnio

Je suis triste.














Constatando que a sorte não me sorri.
Ela nem me dá bola.



Vitrola: Os Pássaros.

sexta-feira, 18 de julho de 2008

Looking for thubirubing

Deitada
Olhando a lua
Vendo um filme
Na porta da rua

Estudando
Passos curtinhos
O sol brilhando
I feel ok

Listening songs
Writing somethings
I dont belong
But I want to...

Anytime, any place
I feel myself
Looking for a chance
Happening

I only feel happy
When I have a reason
On dreams
There’s no reason

Vou levando assim
Em todo canto
Suspiros




Vitrola: Tchubaruba

sábado, 12 de julho de 2008

Do Autógrafo

O que é um autógrafo? Ou melhor, qual o sentido de um autógrafo? Parece que esse símbolo se tornou o método uniformizado de como se dá a relação entre fãs e ídolos. É um procedimento automático: sós ou conglomerados, fãs se alvoroçam, lançam seus papeizinhos intempestivamente à espera do tão sonhado rabisco. Sim, porque, com tamanho estranhamento que a comunicação entre dois desconhecidos causa, acompanhado do tal aglomerado em volta do ser aclamado, a dedicatória de um autor, do ídolo, fica resumida a garranchos, geralmente com a mesma mensagem: beijo, abraço e a assinatura –, às vezes acompanhado do nome do fã, se este tiver sorte.

Fico pensando quão desprovido de sentimento que é guardar o tal rabisco. Que lindo, meu ídolo sabe escrever. Acho, na verdade, que ele serve mais para se exibir e simular uma pretensa proximidade com o ídolo; o que não é de todo ridículo, se te faz bem. Mas acho que vale muito mais a pena aproveitar ao máximo aquele momento único que se tem de ficar cara a cara com o idolatrado. Trocar palavras, fazer uma tirada, levar carinho. Olhar em seus olhos, captar um pouquinho da alma, da fonte de inspirações, das mágicas que ali se produzem e te cativam. Guardar esse momento na memória parece ser muito mais especial do que o concreto a que se reduz um autógrafo. Sentir no ar o sorriso, o aceno direcionado a ti, captar a atenção que lhe é dada pelo ilustre desconhecido. É um plano diferente, abstrato, exige sensibilidade; não destreza, físico e gritaria. Emoção, dar-se tempo para sentir os nervos à flor da pele, e não lançar mão de um movimento automático que mecaniza as ações e dilui o momento em outros tantos iguais, deixando de ser único.

Tudo bem que o autógrafo pode ser a escapatória de uma situação embaraçosa. É instigante a situação em que uma pessoa ama aquele cuja vida sobre tudo sabe, que às vezes acompanha fielmente, sem, no entanto, conhecê-lo. O ídolo não sabe quem tu és. Aí, no cara a cara, o que dizer? O fã é desconhecido, sendo ainda qualquer um na multidão; o ídolo é, ao mesmo tempo, conhecido e estranho. Que relação estabelecer? Dependendo da desenvoltura de ambos: o nervosismo do fã, o não saber como lidar com isso do ídolo, o autógrafo parece ser aconselhável, de forma a evitar frustrações e micos. Embora eu pense que tentar esquecer a inibição e lançar-se com desenvoltura renda um momento mais interessante. Desenvoltura com classe. Um pouco blasé, digamos.

O fato é que o autógrafo é uma marca muito rude e sem graça para guardar como lembrança, ou para se considerar uma relíquia. É bom também tentar abstrair um pouco essa história de endeusamento das pessoas. Além do que aquele pequeno momento não tornará fã e ídolo amigos íntimos. Fazer uma brincadeira, dar um carinho. E só. O amor é simples.



Vitrola: Condicional

domingo, 8 de junho de 2008

Da Essência do Amor/Do Momento da Entrega

Da Essência do Amor

Relevar os supostos defeitos, não se sentir mal com aquele péssimo gosto. Esquivar-se das manias cotidianas; abraçá-las e reverter para a gracinha do ser. Falta de bom senso. Ninguém entende o senso do gosto. Ninguém sente como é gostoso enlaçarem-se as almas, esquecer-se dos traumas e morrer de amor.

Do Momento da Entrega

Paira no ar o senso de humor da tirada jocosa. Mas não só isso, a vítima estremece de vergonha e sob os negros longos fios esconde o rubor que toma sua face delicada. Do outro lado, ele sente: o que era piada, desemboca em um cenário fulgente. Assim, o sorriso do garoto é acompanhado de um olhar charmoso mais o balanço da cabeça que, negando, quer dizer, em realidade, que sim: - essa é minha.



Vitrola: Mania de Você

(dedicado a todos, que amam).

sexta-feira, 16 de maio de 2008

Pra onde vão os chineses?

Apesar de não estar muito em voga nas discussões atualmente, a religião ainda possui grande representatividade no mundo, sendo uma grande influência nas questões de política internacional. Apresenta um empecilho a relações entre Estados e populações, pois cada religião regula, segundo suas normas, os direitos e deveres dos indivíduos; divide o mundo em blocos, dando margem ao preconceito e ao surgimento de rivalidades. Ainda, sendo cada religião fundamentada em verdades absolutas – dogmas –, elas tratam de negar quaisquer explicações diferentes das suas sobre as forças que regem o mundo. Aí aparecem as disputas, que mais tem a ver com expansão e dominação do que com afirmação ideológica. Qual seria o problema de uma coexistência pacífica? Cada povo tem sua salvação nas suas próprias crenças, que deveriam ser respeitadas. Até porque, não estando fundamentadas no método científico, não há como comprovar a superioridade de uma em relação a outra – a não ser pela força.

Imagino o mundo dividido em seus respectivos nichos religiosos, e uma fila de pessoas que morreram se encaminhando para cada local previsto por sua crença. Cristãos fraternos, solidários, honestos, leais, modestos, sãos e salvos se dirigem ao céu, dimensão que tem como cenário o jardim do Éden. Chatíssimo atualmente. O cristianismo existe há mais de dois mil anos sem ter sido, nesse longo período, reformulado ou atualizado. O conceito de felicidade mudou de lá pra cá. O ócio contemplativo, que prevê todas as coisas boas caindo do céu, virou entediante para quem se insere no regime competitivo do capitalismo. Neste o grande barato da vida é buscar a inalcançável felicidade ininterrupta e ferozmente; e conseguir chegar ao ápice da existência quando arranjamos um ofício ou uma posição honrosos para desempenhar na sociedade. Ficar bebendo o leite que jaz em uma corredeira não é, definitivamente, entusiasmante.

Mas o que importa é que eles – os que foram para o Éden – se salvaram; Livraram-se de arder no fogo do inferno. Os islâmicos fundamentam-se igualmente na questão da dicotomia céu-inferno. Com alguns deveres e direitos de conduta social diferentes dos cristãos, acordam com estes no que diz respeito às orações, às penitências, aos castigos, indispensáveis para salvar a alma quando não houver mais corpo. O céu dos islâmicos é um tanto mais chamativo para os homens. Lá chegando, eles se defrontam com belas virgens que se colocam a sua disposição para que desfrutem do paraíso. As semelhanças são grandes, mas pequenas diferenças como quem foi o profeta que trouxe a palavra de Deus, sobre a castidade dos que levam sua palavra aos leigos; poligamia, alimentos que podem ser consumidos, datas comemorativas... detalhes fazem com que se acirrem disputas sobre quem carrega a verdade. Tendo por trás interesses políticos, desenvolvem-se conflitos sem solução; nenhuma parte abrirá mão de suas próprias convicções. O resultado é o impasse que a história carrega há muito tempo.

Mas o que intriga realmente é o fato de que os chineses e outros povos orientais não tem pra onde ir quando seus corpos param de funcionar. Pra onde vão os chineses? O confucionismo é algo como um método de conduta social no qual os chineses estão inseridos desde o século VI a.C. É tomado como religião, mas é basicamente uma crença nos preceitos éticos emanados do filósofo chinês Confúcio, que evocam os fatores primordiais para que o homem tenha uma boa passagem em sua vida terrena. Enaltece a justiça e a obediência, onde os princípios humanos, cortesia, piedade filial, lealdade e integridade de caráter devem prevalecer. Por meios desses preceitos o homem é capaz de alcançar a paz e de ter uma boa convivência com o próximo. O confucionismo visa apenas a melhorar a vida do homem, sem a pretensão de se esmerar na explicação da origem e do fim do mundo. Colocando o homem no centro e sua capacidade própria de tomar o rumo que lhe trará felicidade, parece se encaixar com a vida do homem contemporâneo, para quem o importante é atingir o equilíbrio, o bem-estar e o sucesso durante a vida e não temer as represálias do que vem depois dela.

Na imagem da fila de pessoas em seus respectivos nichos religiosos, os chineses – logo eles, tão numerosos – não têm cenário pomposo para absorver suas almas. Eles não rezam nem sofrem por sua salvação. De outra feita, não brigam com ninguém pela supremacia das forças que regem o mundo. No que diz respeito ao desenvolvimento de um manual de conduta que ajuda os homens a trilharem seus caminhos em busca de uma boa existência e que sirva de apoio nos momentos de dificuldade, palavras de sabedorias ou fé desempenham um papel fundamental. Ter certeza dos seus passos, desenvolver boas relações, ter uma existência com mais sorrisos do que com tristeza, o ser humano se apega às crenças ou à psicologia para buscar apoio quando se sente perdido, sozinho e sem solução para seus problemas. Quando o que importa é se sentir bem, não há hierarquia entre religiões. Qualquer crença que leve paz ao homem desempenha sua função, sem precisar justificar-se por céus, infernos ou profetas. Muito mais do que prover a salvação no desconhecido, a fé nos ajuda a viver o presente e desfrutar do paraíso que a Terra fornece a quem aprende a viver bem.




Vitrola: Horizonte Distante

sábado, 10 de maio de 2008

Guitar Hero

Mocinho franzino, de forma imponente o andar um tanto cambaleante. Finge que não dá bola, e também se sente dono do mundo. Um misto de despojo com imponência. Estranhamente um tão fino corpo, sob tecidos que lhe sobram, se mantém em riste e transforma-se imprudentemente. Sorriso resplandece a olhos interessados; comete uma atrocidade, indo ao encontro de um coração que se sacode alvoroçado. Desleixado, blasé, engraçadinho, poser: atitude rebelde que não esconde o olhar afetuoso, a vontade de dar àquela o amor que encanta as notas do violão. Eu; a que o observa.



Vitrola: http://www.youtube.com/watch?v=zPvmwuLaXhE

segunda-feira, 21 de abril de 2008

Do Riscado Imaginário

Devagar
Por entre dedos
Vão passar
Inúmeros segredos

Equilibrado e contínuo movimento
Abre o caminho da distração
Indo ao encontro de sonhos e tormentos
Que permanecem no plano da abstração

Desditos
Loucos devaneios
Contidos
No silencioso entremeio

Misturando o real e o imaginário
Vai surgindo o fio linear
O plano de ação estará traçado
Encontra sutil a saída salutar

Perfeito
O fim derradeiro
Em rodeios
Surge o amor verdadeiro

Mas o limiar do fio da fantasia
Esquece da sórdida realidade
Tendo o coração como guia
Transborda de beleza e irracionalidade

(Tic-tac)

De repente
Bate a razão
Se sente
O ar da reflexão

Ventania
No castelo de cartas
Um banho de água fria
Era tudo mentira

O fio arrebenta
E outra parte se enoza
- Nada é fácil como aparenta -
à poesia diz a prosa

Por isso que não se balbucia
O sonho que cau do céu
Guardado com a estrela-guia
Voa de graça, desliza ao léu



Vitrola: Onde Ir

terça-feira, 8 de abril de 2008

Il fait beau

Dor, sensação incômoda. Pode ser física ou psicológica. Às vezes acompanhada por lágrimas. É uma lástima. Invariavelmente uma ruga na testa aparece, transmitindo aos outros o mal-estar.

Mas descobri uma dor boa, elegante, bonita e corada. A dor de sentir frio. Sim, é uma dor: limita o movimento, ataca as articulações, restringe a respiração. A gente sofre. Os sintomas? Preguicite, fome excessiva, pele ressecada, tremeliques. Durante o inverno, não se passa um dia sem sentir a dor, sem se reclamar do friiio, sem tentar inutilmente se safar com os remédios alternativos: café, chimarrão, abraços queridos...

Tá, mas tudo isso se passa em um cenário lindo, de céu azul limpo, luz solar pálida, folhas e flores colorindo o desbotado; composto por ambulantes encasacados, mais luvas, cachecóis, boleros, ponchos; secos, fumaça na respiração que rapidamente fica ofegante; e as faces rosadas. Que vontade de estar juntinho, passar e receber calor. Proximidade, aconchego, sorrisinhos, estímulos.

Convivendo com o arrepio na pele, o corpo em constante latência acha o fervor da contemplação no banho quente, no cobertor macio, no pulsar do coração; tum-tum, aquece a alma e assim nasce a emoção. Amor.

Tímido, encolhidinho, importuno, nos mantém loucos por sensações, vontades; e os sonhos
...



Vitrola: Deixa o verão

quarta-feira, 2 de abril de 2008

D'Alva

Mocinha bonita
Com seu laço de fita
Desfila pomposa
Por entre curvas sinuosas
Fazendo o sol brilhar

A saia rodada em dégradé
Recebe um sorriso cortês
Tímido o olhar foge para o chão
E o rubor denota emoção
Apressado um resfolegar

Corre-se o risco de um abalo
Delírio pela beleza estimulado
Será tocado o céu
O mimo irá para o beleléu
A boneca vai quebrar

Porém envolta de alento
Revela o furor do encantamento
Dos pássaros se ouve o som
Do qual se dará o tom
Completando do dia o embelezar

É garoa pequena
Branca e serena
À vida vai tentar as cores
Buscando por amores
O arco-íris vai encontrar




Vitrola: As Vitrines

terça-feira, 25 de março de 2008

Do Ziriguidum

Nós brasileiros convivemos com o fato de não sermos um país rico em termos econômicos. Estudiosos e leigos são pessimistas quanto a possibilidade de nos tornamos uma superpotência, seja por conta de raízes sociais inadaptáveis à organização do Estado burocrático moderno, ou da corrupção que infesta os poderes da República. Com o cunho de país em desenvolvimento, ficamos em uma posição à margem no sistema de nações do cenário global, como se ainda não estivéssemos atingido o grau de organização necessário para dar conforto e bem-estar à população.

Em nenhum outro modo de produção a renda monetária esteve tão no centro da vida das pessoas. A base para o funcionamento do capitalismo é o consumo. Sendo assim, o fator excludente de uma sociedade ajustada aos moldes daquele é o poder de compra. Se o indivíduo não tem como absorver os milhares de produtos novos que surgem a cada dia, então ele não interessa para o sistema, ficando à margem. Assim, o homem contemporâneo está cada vez mais virando um refém cego da indústria, da tecnologia. O objetivo de vida se transforma gradativa e unicamente na aquisição de bens materiais, muitas vezes não importando os meios para atingir tal intento, de modo que, rodeado de quinquilharias, o sujeito angaria o respeito e o carinho dos que estão a sua volta. Sim, a nossa dignidade e existência estão diretamente atreladas ao nosso poder aquisitivo. Por isso que, já há algum tempo, tem se questionado se dinheiro equivale à felicidade.

Mas qual a relação disso com o Brasil? Bom, sendo um país não suficientemente desenvolvido, é conseqüente a existência de milhões de cidadãos marginais, ou seja, que não se inserem na sociedade consumidora, por terem condições de, no máximo, alimentarem-se. Porém, indo de encontro à relação consumo-felicidade, podemos observar que muitas dessas pessoas acham algum motivo para sorrir, para entusiasmarem-se. Eis que tenho cá minha teoria. A toda-poderosa-yankee variável consumo não é o forte do Brasil, todavia temos uma variável inata a que poucos têm dado a devida relevância: o samba. Este ritmo contagiante colore a alma, seduz os sentidos, hipnotiza o corpo, fazendo-o se mover, de acordo com o batuque. Claro que qualquer tipo de música traz a sensação de bem-estar: a clássica, a religiosa, a valsa..., mas aplicando uma metodologia altamente confiável pude concluir que o samba é superior a todos os outros gêneros musicais. Vejamos: observando o nível de abrangência populacional e de grupos regionais distintos, podemos dizer que o samba é o ritmo que mais facilmente as pessoas se encantam. Pode-se constatar tal inferência nas origens dos milhões de turistas que vêm ao País na época do carnaval: escandinavos, japoneses, catalães, eslavos, escoceses... o samba contagia qualquer grupo étnico, credo e opção sexual. Aos brasileiros, criadores desse tesouro cultural, o samba traz felicidade, sentido para a existência. Sob o efeito de milhares de sensações prazerosas, o indivíduo acha sua identidade na sociedade; com acesso livre à alegria, sem obstáculos econômicos, ele se sente parte de um conjunto, o qual qualquer um pode fazer parte, sem pré-requisitos – o conjunto do samba.

É gratificante perceber que existem outros fatores, além do dinheiro, que estão diretamente ligados com a felicidade. Se esta é o verdadeiro objetivo do ser humano, posso então dizer que o Brasil é um país diferenciado: consegue criar formas alternativas não apenas de combustível, mas de meios de aflorar a alegria na população, sem competições e poluição; apenas pelo libertar da expressão corporal. Dissimulado, o samba vem sendo parte de nossas vidas; de uma hora pra outra, ele pode subverter a ordem e alavancar o país do futuro.

Vitrola: Fita Amarela

quinta-feira, 20 de março de 2008

Do Baile


Devido a compromissos de suma importância conjugados com atividades universitárias tediosas, o novo post fica adiado para um dia mais tranqüilo.
Vitrola: Orquestra Imperial

domingo, 16 de março de 2008

Do Sucesso

Não importa como for
Conjugar composição com melodia
Tom e timbre em sintonia
Eu quero ser cantor

Decifrar a arte de brilhar
As notas vão saindo da viola
Mexendo a saia da senhora
Eu vou ser pop-star




Vitrola: Lisbela

quarta-feira, 12 de março de 2008

Da Elite do Crime

Qual a mensagem que passa o “Tropa de Elite”? Muitos têm acusado o filme de promover o fascismo. Talvez pela rápida popularidade alcançada pelo BOPE, o encantamento das pessoas por uma tropa de elite desconhecida por muitos, que, além de ser eficiente, não é corrupta – algo inédito no Brasil –, ele tenha-se transformado no segmento da polícia símbolo de heroísmo. Descobrimos os salvadores da pátria. No entanto, creio que o enredo do filme não apresente glória alguma. Pelo contrário, na guerra do tráfico parece não haver perdedores ou ganhadores. De um lado, miseráveis que têm o crime como profissão. De outro, um pequeno contingente de policiais que recebem um mínimo salário para matarem compatriotas. Enquanto eles duelam, os principais culpados reclamam, do outro lado da cidade, da violência generalizada e da corrupção da máquina pública.

É fácil reclamar, exigir os direitos de cidadão. A segurança é sempre a grande preocupação do governo, sendo também mais uma de suas ineficiências. Para os reclamantes do segmento da população com um nível de vida confortável, a solução se encontra nos gastos em tecnologias: cercas elétricas, vidros blindados e escuros; além dos gastos agora convencionais em seguros, seguranças particulares e condomínios fechados, símbolo da exclusão da vida social urbana, barreira contra o centro e as favelas. O que me parece paradoxal é o fato de ser essa camada social aquela que tem o poder aquisitivo para consumir os produtos ilícitos fornecidos pelos altos morros das favelas.

O encontro de dois mundos completamente distintos, embora constituídos da mesma espécie: como no encontro da água doce com a salgada, que gera o fenômeno da pororoca. Os seres são os mesmos, as realidades diferentes. O honrado cidadão da pátria se rebaixa ao mundo culturalmente inibido, dos profissionais informais, da ausência de infra-estrutura, dos barracões, das altas taxas de natalidade, de onde não há espaço para as novidades do mercado: roupas de marca, eletroeletrônicos, automóveis... O local onde a vida é difícil, onde as perspectivas e oportunidades são restritas. Ele vai lá para exercer sua função primordial para a economia: consumir; o fator exigido para se receber identidade na sociedade de organização capitalista. Como um dos vários bens de consumo supérfluos, a droga faz parte de seu contentamento, diversão. Curtir o barato, libertar-se dos problemas, sentir prazer, distanciar-se do mundo, sonhar acordado. Sim, quem tem poder de compra, pode adquirir a alegria instantânea. Pode ser (e é) prejudicial à saúde, alguns afirmam lidar bem com o uso, mas o fato é que não se entra em loja para comprar drogas. É um comércio ilícito, ou seja, ocultamente realizado por criminosos. Seriam eles os que vendem ou os que compram? Penso que ambos são infratores da lei. No entanto, quem fica mais vulnerável são os fornecedores. Na favela que se dá o comércio, a chegada e a negociação dos produtos. É lá que nasce a violência, onde estão concentrados arsenais de guerra e exército de assassinos, assaltantes, malfeitores, bárbaros. Pessoas que têm o tráfico como profissão.

Então, deste lado, os marginais desejam mais do que tudo a inserção na sociedade. O que isso significa em uma economia de mercado? Consumo. Mais que educação, trabalho, arte, ética, o dinheiro vale mais que tudo isso, é a finalidade, não o meio. Sobretudo os jovens necessitam consumir, precisam assumir um estilo de se vestir, a música a ouvir, os lugares a freqüentar, para mostrarem suas personalidades, para serem aceitos em seus círculos de amizade e pela sociedade em geral. Escapar do preconceito da feiúra visual, talvez o maior excludente social. A maneira de adquirir o meio que possibilite a vontade de auto-afirmação mais rápida e certeira é o crime. Por ser ilegal, logo de difícil acesso, é fácil manter a mercadoria por preço alto, sem acarretar queda no consumo. Dinheiro abundante, como ganhar na loteria pra quem nunca teve coisa alguma. Se fossem tentar os meios para conseguir o sucesso profissional, teriam de enfrentar o preconceito social, os obstáculos de uma educação de péssima qualidade, a conjugação dos estudos com o trabalho para ajudar a receita doméstica, a maternidade precoce... Não é impossível, mas aquelas pessoas, na maioria das vezes, não sabem disso, desconhecendo o mundo fora da miséria, das luzes. Assim que o tráfico é visto como o caminho promissor para os que estão nas trevas do pensamento. Enquanto há poucos estímulos para as políticas sociais, a propensão a consumir drogas se mantém alta. Esse é o principal investimento que os economicamente favorecidos fazem no mundo dos flagelados, incitando a prosperidade material às custas do crime.

Assim que se desenrola o enredo de “Tropa de Elite”. Sem pensar em mais nada que não em si mesmo, seguindo os preceitos da livre-iniciativa, o primeiro escalão da sociedade sustenta a violência, destruindo a vida de milhares de cidadãos e onerando o serviço de segurança do governo, tudo em nome da satisfação pessoal; consumo.
Vitrola: Rap das Armas

sábado, 8 de março de 2008

Do Ser Mulher

Embalada pelo chacoalhar do ônibus, a languidez corporal aflora no fechar dos olhos dela. Desprovida de beleza, gotas d’água pipocam em sua pele, enquanto do cabelo despenteado fios rebeldes se percebem. Compacto da feiúra, parece que virou as costas para vaidade. Porém, quando parece que será aprisionada pelo sono profundo, entregando os pontos para o corpo disformemente fatigado, eis que o brilho do esmalte colorido se abre em sua mão. Como um botão de flor no pântano, lembra aos olhos do mundo que, na essência de seu ser, a graciosidade sempre tem vez. Situação deplorável de estranho encanto: quando não sabe se cai sono, ou se dá cor às suas unhas; mesmo que de marca vagabunda. Mulher.



Vitrola: Cotidiano

quarta-feira, 5 de março de 2008

Do Encantamento pelo Mundo Pequeno

Logo que cheguei de viagem, pensei em escrever sobre algum aspecto interessante dela; nada, todavia, me veio à mente. Decorrido então pouco mais de uma semana do retorno, a saudade bateu e o motivo desta é o tema do texto. Passei uns cinco dias em Veranópolis na Serra Gaúcha com mais duas amigas entre outras companhias. Cidade com pouco mais de vinte mil habitantes, sem sinaleira, shopping, transporte público e formigueiros humanos. Pacata, limpa, quieta, devagar. Em outros tempos acharia isso tudo muito mais chato que prazeroso. Desfrutar da tranqüilidade e do cantar dos pássaros era impossível, sendo sempre muito entediante. Percebo agora que a saudade é o sinal de que mudei de opinião. É certo que a novidade que representa uma cidade desconhecida e a presença de amigas em vez de meus familiares são fatores que atenuam a abstinência das maravilhas práticas e tecnológicas do mundo urbano. No entanto, acho que precisava de um descanso das outrora tão ovacionadas qualidades da metrópole global. Estar em contato com todos a qualquer momento, ser bombardeada por informações de todos os assuntos possíveis, ter a possibilidade de escolher mil e um programas a fazer, entre vários locais diferentes os disponibilizando. Ter o privilégio de pesquisar preços entre a concorrência de supermercados, lojas, postos de gasolina... e a oportunidade de optar entre várias instituições de ensino, vagas de emprego, locais de moradia. O fantástico mundo urbano, cheio de facilidades, asfalto e glamour. O conjunto de tudo que o homem contemporâneo precisa para viver. Trabalho e lazer lado a lado. Porém chega um momento que tantas informações, oportunidades, pessoas saturam o cérebro. Tudo isso nos obriga involuntariamente a pensarmos o tempo todo, a medirmos os custos de oportunidade a cada precioso minuto. São tantos os problemas a resolver, os jornais a ler, os amigos a visitar, os eventos a comparecer. O tempo passa rápido e nunca estamos plenamente satisfeitos com a forma que o utilizamos. Chuva naquele passeio no parque no fim de semana é o fim, por que cargas d’água não fiquei em casa adiantando o trabalho? Há pouco tempo para planejar, pensas antes de agir, o que aumenta as chances de erros e esquecimentos, contribuindo para o carregamento de estresse e rugas. O tempo não pára.

Na Serra, em lugar do computador havia uma paisagem linda; da multidão, árvores; dos carros, bicicletas. Longe da poluição do ar, sonora, visual... o que resta é a despreocupação. É a obrigação de apreciar doces coloniais, quedas d’água, clima ameno, pessoas simpáticas, vinho doce... Sem o risco de ser encontrado pelos cobradores de dívidas e satisfações, o tempo é livre para libertar a mente. Ler romances, ouvir rádio, assistir a programas televisivos desprovidos de cultura útil, jogar cartas. Fazer nada, pensar em nada. Nem mesmo onde comprar, o que fazer, dado as poucas opções que a pequena cidade oferece. Essas qualidades são quase que exclusivas delas; quero dizer que não há lugar para tais atributos na cidade grande, incompatibilidade de estilo.

Mas há uma característica que cairia como uma luva para o mundo urbano brasileiro: a segurança de se caminhar na rua em qualquer horário. Além de termos de enfrentar todo o problema da distância entre os locais na cidade grande, o que envolve trânsito congestionado e ônibus lotado; de termos que conviver com o lixo nas ruas, riachos imundos e pedintes por todas a parte. Por cima de tudo isso está a privação da liberdade de ir e vir. Vivemos reprimidos pela constante ameaça daqueles que optaram pela vida criminosa. Assim, além de andarmos com a cabeça cheia com as tarefas a cumprir, ainda devemos estar sempre alerta, desconfiados daquele que nos cercam. Em meio à multidão, estamos cada vez mais individualistas por causa do constante receio. Como se rondados por forças do mal, tentamos formar um campo de força para nos proteger, assumindo uma postura indiferente. Fora do nosso círculo de conhecidos, estamos sós, ou melhor, acompanhados pelo perigo.

É difícil escolher entre a vida corrida, cheia de ruas a visitar, da cidade com a pacificidade e a liberdade de corpo e espírito da Serra. Quando o que mais importa é o sucesso material, objetivo de todos os integrantes da sociedade consumidora, estar perto dos grandes centros é primordial. Mas fico pensando se para viver um amor – seja pela mpb, ou seja lá qual for – é preciso algo a mais do que sossego. Acho que não. Considerando que o amor faz par com a felicidade, adeus mundo urbano, pelo menos enquanto a paixão durar.



Vitrola: Quando um homem tem uma mangueira no quintal

sábado, 1 de março de 2008

Da Platonice

Perto de mim o coração acelera
Estímulo do que se vê ao longe
Ilustre perfeição da quimera
A felicidade ali se esconde

Estranha vontade de se fazer presente
Enquanto guardado o sentimento está
Sofrimento apaixonado latente
Ausente a coragem de se declarar

Despercebido do encantamento alheio
Melodias românticas ao pé do ouvido
Cantarola o ser perfeito
Como se se correspondesse comigo

Delírios encantados de lascivo ardor
Estremesse o corpo enamorado
Só de ver o utópico amado
Enaltece a alma, morre de amor




Vitrola: Apenas mais uma de amor

quarta-feira, 27 de fevereiro de 2008

Do Vencedor

Só citar já vira polêmica. O programa televisivo mais popular do Brasil nas férias de verão é alvo de extrema hostilidade daqueles que se julgam intelectualmente superiores. Pode ser que o Big Brother Brasil seja um programa culturalmente insuficiente e que o fato de contribuir para um desconhecido ficar milionário seja um tanto ridículo; penso, no entanto, que analisar tamanha popularidade e a convulsão social que o BBB causa é interessante, podendo render boas análises da sociedade brasileira, do alcance da mídia e de seus reais interesses, assim como do julgamento dos comportamentos alheios.

O primeiro fato a que me atenho é o da fidelidade do brasileiro ao programa. É incrível mas estamos na oitava edição, com previsão de continuidade até 2011. O que há de tão interessante na convivência de pessoas desconhecidas que lutam por enriquecerem facilmente? Suponho que seja o mesmo interesse pelo que se tem em relação às tão populares novelas. Apegar-se à vida de personagens ou pessoas é mais fácil para o brasileiro do que a idéias, escritos, pinturas, ou qualquer tipo de trabalho desenvolvido por um desconhecido. Pessoalidade; estabelecer vínculos, identificar-se com outros seres humanos. Sobretudo emocionar-se pelas alegrias ou tristezas alheias. O sentimentalismo está fortemente ligado à cordialidade. Preocupar-se com a reação das pessoas, o modo de agir. Talvez por isso seja tão atrelada a relação ídolo-fã no Brasil. Muitas vezes, deixamos de (ou passamos a) apreciar um trabalho por ações particulares do sujeito. Invadir a privacidade dos artistas é febre nacional. Damos muito valor à personalidade. Tanto que, como no caso do BBB e das novelas, estarmos diante de tantas nos prende tamanha atenção. Defender desconhecidos pelo são, não pelo que fazem.

Claro que isso não é uma característica exclusiva do brasileiro, mas talvez aflore mais em nós. Ainda mais quando tal característica inata é estimulada. A campeã de audiência televisiva brasileira que o diga. Contabilizamos, no mínimo, cinco novelas diárias, mais o BBB e uma minissérie no verão na sua grade programação. Isso é o que eles chamam de política social? Apresentar programas que praticamente não adicionam conhecimento algum aos telespectadores? Os documentários, programas musicais, discussões políticas, talk shows com estudiosos, divulgação de trabalhos artísticos, notícia internacionais, etc. ficam escondidos, sendo acessados pelos financeira e, em conseqüência, educacionalmente providos. Se a educação é um problema para quem está à margem da população – a maioria –, o acesso às informações também. Porém há um contraponto entre as variáveis. Enquanto a falta de educação é um problema para o Estado – excetuando-se os políticos que tiram proveito da situação –, a manutenção da ignorância rende um alto e fácil índice de audiência. Com uma boa dose de carisma, se ganha uma crítica desprovida de informações, de desenvolvimento do raciocínio, do pensar. Nada de expandir os horizontes, isso gera a formação de uma crítica questionadora, perda de credibilidade, o que significa menor afluxo de recursos financeiros.

E quem vai abrir mão de dinheiro nesses dias competitivos? É estranho contrastar as denúncias jornalísticas dos escândalos de corrupção na política quando os que estão na frente das câmeras estão, da mesma forma, roubando os brasileiros. Roubando seus olhos, atando seus pensamentos, manipulando suas opiniões. Aprisionados naquele discurso de bondade populista, de preocupação social falsa, a população caminha para a escuridão, acreditando ser essa uma boa via. Imersos nesse mundo fechado, há ainda resquícios de racionalidade: discussões acaloradas surgem freqüentemente sobre o caráter de cada participante do BBB. Um prato de mão cheia, o jogo não estabelece critério específico de conduta dos participantes para vencerem. O ganhador da bolada de um milhão de reais deve apenas agradar o público ao máximo, já que este é quem dá o veredicto final. Um desfile de personalidades se põem, então, à mostra, como a exposição de roupas em vitrines. É interessante observar o tipo de pessoa que tem mais popularidade, o perfil do vencedor. A vítima é sempre muito bem vista; aquele que é perseguido pelos demais geralmente é acolhido, enquanto os outros recebem o rótulo de vilões. Os menos favorecidos financeiramente, o famoso “pobre-coitado”, cai nas graças do público por ser o mais necessitado, o que realmente precisa do dinheiro. Ser engraçado é outro fator positivo, estar sempre com alto-astral. O que acho mais intrigante é o número um da queimação de filme: admitir que se está jogando. Falta grave. Na minha singela opinião, a partir do momento que se entra em um jogo, se está necessariamente jogando. Mas para os telespectadores e também para os participantes, assumir que a pessoa tem estratégias é o fim, é como um atestado de falsidade. Agir meticulosamente, calcular cada passo talvez se assemelhe às características dos vilões das novelas. Os mocinhos, grandes queridinhos, agem espontaneamente, sendo naturalmente alegres, felizes, saltitantes e sinceros. Uma visão maniqueísta.

A meu ver na vida real não há bem ou mal exclusivos. Todos nós temos nosso lado vilão e mocinho. Invariavelmente somos todos um pouco gananciosos e incorporamos personagens em cada circunstância da vida. Podemos fingir que estamos bem para não preocupar os outros, fingir um sorriso para agradar àqueles que amamos, inventar uma desculpa para recusar um convite. Não se vive somente da verdade. Omitir, mentir, atuar fazem parte da vida e são necessários em determinados momentos. No fim das contas, o Big Brother é aquele que mais conseguiu passar uma imagem de bonzinho para se dar bem. Mal-humor e agressividade são pares que não combinam, embora eu nunca tenha conhecido pessoa que não apresentasse tais qualidades. Um super-herói que salva ninguém (fajuto?): coisas da vida real.




Vitrola: O Vencedor

quarta-feira, 20 de fevereiro de 2008

Das Passagens da Vida

As grandes conquistas, os grandes eventos são geralmente muito valorizados pela nossa memória. Àqueles é reservado o espaço dos momentos mais felizes de nossas vidas. Sempre que recordamos formaturas, casamentos, viagens... é como se a caixa do inesquecível se abrisse, esta responsável pelo maior afluxo de alegria e contentamento instantâneo; a caixa cinco estrelas da memória. Em um canto mais miserável desta, guardamos os momentos cotidianos. Organizados caoticamente, por serem muito semelhantes, são normalmente desprezados. Ausentes de novidade, muitas vezes são apenas parte das obrigações, da rotina. Já temos uma inclinação a ligar fato rotineiro com problema: trânsito faz par com engarrafamento, aula com tédio, trabalho com colegas chatos... Penso que isso deve ser inteiramente revisto desde que atentei para o fato de que vivo um período muito feliz cotidianamente em um momento nada glorioso de minha vida.

Se tivesse que escolher a vedete da minha rotina, esta seria o ônibus. Inicialmente, apraza-me muito a sensação de ser deslocada sem aplicar esforço próprio. Ser levado por uma velocidade que nunca se atingiria por capacidade física humana é fascinante. Imagina, sentar e contemplar um belo dia com árvores, prédios, carros, pessoas passando aos olhos. É como ler um livro, ou assistir a um filme: apegar-se a imagens vivas, interar-se de fatos pessoais sem, no entanto, fazer parte deles. Esquece-se, neste momento, das preocupações, dos problemas; livre das línguas conhecidas, tendo como companhia apenas estranhos ao longe. A indiferença dos passageiros nos liberta inteiramente para refletir sobre diversos aspectos da vida, sem medo de sofrermos interrupções. Somos apenas mais um na multidão, ou seja, podemos descansar em paz em meio ao anonimato, sem cobranças, sem olhares de reprovação, inveja, desgosto que os conhecidos nos lançam.

Sobretudo é um momento em que não estar produzindo, correndo atrás do sucesso, solucionando problemas é livre de reprovação. Afinal, é o período necessário para chegarmos até os locais onde cumprimos nossas obrigações, seja no trabalho, faculdade ou mesmo em casa – onde, ora pagamos contas, ora damos satisfações, relatando os altos e baixos do dia. Entretanto, ninguém relata o momento que passou no ônibus, é um tempo morto, despercebido, esquecível. É aí que reside a mágica. Um tempo inevitável só para si. Renunciar à vida por instantes, ser espectador do que passa aos olhos, fatos desimportantes, rostos que serão esquecidos, ser levado por um desconhecido. Transe.

Acho que por proporcionar essa sensação de contentamento indiferente é que andar de ônibus combina com ler um romance. Pegar sol em um dia lindo de primavera lendo “O Retrato” é uma lembrança feliz que compartilho só comigo. E, indiscutivelmente, não há momento melhor para curtir um som. Para os que adoram viver no mundo da lua, como eu, também não há melhor lugar pra soltar a imaginação, criar histórias e teorias. Parece desimportante, mas o pequeno fato de ser um passageiro diário pode ser um refúgio onde encontramos com nosso próprio ser. Momento terapêutico; carregados de inércia, pensamos na vida, sem ela pensar em nós.
Vitrola: Alegria Alegria

segunda-feira, 18 de fevereiro de 2008

Do Pequeno Ser ou Do Ser Pequeno

Basta-lhe um pedestal
Para igualar aos olhos o grau
Da influência social
Expressão física de tamanho cabedal

Um compacto intelectual
Deslizando por entre ombros e queixos
Prestar atenção é vital
Pra escapar dos terríveis desleixos

Dos apressados passos desengonçados
Da grande massa no céu
Que se esquece de olhar pra baixo
Empurra as ‘minialturas’ ao léu

O impacto é grande
Preenche o corpinho de indignação
A revanche, porém, é o bastante
Rapidez e habilidade triunfam de antemão

Perde no esforço braçal
Só restando o embate mental
Apetece-lhe um discurso visceral
Invocada pose de maioral



Vitrola: Partido Alto

sábado, 16 de fevereiro de 2008

Do Museu das Novidades

Durante um grande período de minha vida tive a convicção de que havia nascido na época errada. Muito amigos e colegas confessam ter a mesma sensação. Isso se deve sobretudo pelo fato de que a juventude do início do século XXI se identifica muito mais com as músicas de outras épocas. Mas tenho cá pensado de outra forma desde que ouvi Rita Lee dizendo que não é saudosista à época em que viveu sua juventude, que, na verdade, tudo era mais difícil, reprimido, inacessível... e, sem dúvidas, vive melhor agora.

De lá pra cá, pus-me então a contrastar a vida brasileira de antigamente com a atual – leia-se pré x pós-Diretas, pré x pós-computador, pré x pós-1990... Dá uma sensação de tédio em pensar como os trabalhos de colégio eram realizados em outros tempos. Enciclopédia é um livro que transparece tanto conhecimento, mas seus conceitos são, na minha impressão, superficiais, incompletos. Além de que fica ultrapassada em pouco tempo, por não ser atualizada freqüentemente. Imagens para colocar no trabalho era outra coisa difícil; escrever à mão, então? O acesso ao conhecimento que temos é muito maior do que o que tinham os estudantes de outrora. O mesmo acontece com a informação. Quando tempo demoravam para notícias, novidades, produtos internacionais chegarem ao País? É estranho, mas há pouco tempo a sociedade brasileira convivia com a censura à imprensa e às expressões culturais. O povo tinha que engolir as reivindicações e se recolher forçosamente a sua insignificância. Esses fatos são inimagináveis e normalmente esquecidos pelos saudosistas da época não vivida.

As produções musicais podem realmente ser maravilhosas, mas acredito que, como nos dias atuais, devia ter aquelas bandas e cantores menos inspirados. Talvez hoje eles possam ser mais numerosos, ou só de uns tempos pra cá a mídia tenha descoberto que eles são a preferência nacional... São algumas as suposições, mas o que importa é perceber que, na época mesmo, era muito difícil apreciar a boa música, nem tocando na praticidade do formato LP, mas pensando diretamente na facilidade de acesso à música pela internet, inexistente naquele tempo. Não sei até que raio cronológico chega o formato mp3, mas suponho que, para ele, não há limites. Em uma tarde do ano de 2008 podemos ouvir um número infinito de músicas de tudo que é época. Não é difícil virar uma enciclopédia musical ambulante; esta sempre atualizada.

Acho que, na verdade, tenho paixão pelo o que é antigo. É fantástico viajar ao longo das décadas, não apenas ouvindo, mas assistindo aos filmes, lendo as obras literárias... Está tão na moda o lançamento de DVD’s dos clássicos, é cult comprar LP’s, até o visual retrô pegou. Com o fácil resgate da história recente, graças à tecnologia, o passado virou uma verdadeira fonte de inspiração. Além da ingestão do que vem do exterior, o passado também virou uma grande fonte de novidades para os jovens. A vontade de participar do que aconteceu aperta o coração, mas é melhor estar no futuro do que no passado. Era para cá que aqueles que admiramos hoje olhavam antigamente.



Vitrola: O tempo não pára

quarta-feira, 13 de fevereiro de 2008

Do Sertão

Pra lá a tempestade seca
Do árido solo distante
Da brisa praieira fresca
Ao som das franjas quebrantes

Esvai o calor na invasão
Rastejar das águas sôfregas
Abrem embate em vão
Vexadas por raios de cólera

A pino, o sol de rachar
Difícil manter-se em riste
Corredeira a borbulhar
Vida macambúzia assiste

À neblina de vapor
Dentro da chaminé
Estranha magia do torpor
Some a vontade e a fé

Ausente de movimento
Personifica a desventura
Queima o pé do sertanejo
Terra farta de amarguras




Vitrola: Lamento Sertanejo

domingo, 10 de fevereiro de 2008

Do Zé Mané

Não faz muito tempo, em um dos programas do Faustão – sim, eu estava vendo o Faustão – a Cláudia Leitte expôs sua opinião sobre aquelas pessoas que ouvem um tipo de música e repudiam outros: “dizer que gosta de rock, mas não ouve pagode é coisa Zé Mané!”. Confesso que, nos quinze segundos seguintes à declaração, meu corpo passou por um estremecimento de raiva e indignação. Recuperada a razão, resolvi brincar de advogado do diabo – no caso diaba – e considerar a afirmação da dileta loira.

E se eu for realmente uma Zé Mané? Cada ser humano pensa que a sua verdade é a verdade absoluta. Talvez isso ocorra por termos mais conhecimento e, por isso, confiança em nossa própria inteligência do que nas dos outros – tão distantes –, já dizia Hobbes. Essa característica aflora nas conversas sobre religião, política, times de futebol e, claro, gostos artísticos. Ninguém abre mão de defender com unhas e dentes suas preferências. Também, como iriam fazer isso? Música, por exemplo, é arte, toca o coração, faz-nos sentir bem, tanto nos momentos alegres, como nos tristes. Apreciar uma canção é um momento de terapia, de reflexão sobre os mais variados aspectos da vida. Amamos por minutos um eu lírico em desespero, um encontro apaixonado, o dia chuvoso, o sorriso de uma criança, o lamento de um sertanejo, a morte de um operário... Ainda, a música pode nos dar uma injeção de entusiasmo que ajuda a seguir em frente, lembra-nos da parte boa da vida.

Seja pagode, axé, rock, surf, dance, techno, mpb, bossa nova... entre tantos tipos que aparecem nos corredores das lojas, a música, no mínimo, nos traz um momento prazeroso na rotina cotidiana. Cada um é livre para curtir o som que gosta, o que mais diz respeito a sua personalidade, a sua identidade. Por não sermos todos iguais mas possuirmos o mesmo tamanho de cérebro, não podemos desdenhar de determinadas expressões artísticas. O que importa não é o grau de intelectualidade, e sim a pontinha de felicidade que a música leva a cada ser.

Não que agora eu vá passar a ouvir pagode – somos livres para ouvir, comer, falar aquilo que quisermos –, mas esse pensamento me faz ficar menos preconceituosa em relação às batidas do funk, por exemplo. O que realmente importa na vida é ser feliz. Se o grau de intelectualidade importa pra alguns, pode ser insignificante para outros. No final da vida, ninguém olha pros outros e mede o quão mais feliz foi, mas avalia sua própria vida, suas conquistas, seus momentos alegres. Cada qual se achará brilhante. Cada ser humano se basta com seus gostos, manias e vicissitudes.

Isso vale até mesmo para a sra. Cláudia Leitte. Claro que, como de todos os seres, seu discurso vem acompanhado de autopromoção. Se ela desdenha de quem ouve apenas um estilo de música, está também sendo preconceituosa e, portanto, é uma Zé Mané. Se ela acreditasse realmente na qualidade equivalente de todos os tipos de música, não precisaria ficar dando atestado de que curte outros estilos, que sabe de cor letras “cabeça”. Se não há diferença na música, também não há motivo a temer que sua imagem fique relacionada ao axé.

O dito popular afirma que “gosto não se discute”. Por outro lado, estamos sempre o ferindo. Quando há respeito, acho as discussões sobre preferências saudáveis, podendo render boas risadas. Afinal de contas, às vezes é bom dar uma de Zé Mané. O que importa é ser feliz.




Vitrola: Vassourinhas

quinta-feira, 7 de fevereiro de 2008

Da Gravidade Terráquea

Os humanos têm uma mania crônica de desdenhar do planeta Terra e de suas próprias capacidades como seres inteligentes em relação ao meio extraterrestre. Refiro-me à freqüente imaginação de que os ETs são seres muito mais desenvolvidos, com formas de comunicação superavançadas – como a telepatia –, com meios de transporte que transpõem a velocidade da luz, quiçá que eles já tenham desenvolvido o teletransporte e a máquina do tempo. Tudo bem, concordo que, se eles chegassem à Terra, ficaria surpreendida com suas tecnologias, já que não conseguimos visitá-los ainda; mesmo assim, lancei um olhar peculiar sobre uma capacidade natural do nosso planeta água que pode ser uma entre muitas das vantagens sobre os ETs e seus respectivos planetas.

A aceleração da gravidade na Terra é algo extremamente punk, digo, 10 m/s² é algo muito rápido para uma aceleração contínua que empurra tudo para baixo. Imagina se no planeta dos ETs intrusos a gravidade é algo como a da Lua. Eles se dariam muito mal na Terra: provavelmente suas aeronaves não lançariam vôo por aqui, assim como talvez muitos se jogassem de um prédio achando que iriam chegar vivos ao solo – por que um ET faria isso eu não sei, mas ET é ET, vai saber... –, receio que a locomoção a pé seria dificultada também, ele se sentiriam extremamente gordos e fracotes por aqui, já que em seus hábitats eles empregam uma força muito menor para fazer essas coisas. Em suma, devemos nos orgulhar do nosso planeta que nos deixa mais rápidos, leves e fortes em relação aos ETs (quando ambos estão aqui).

Claro que, se fôssemos nós que invadíssemos outro mundo, enfrentaríamos dificuldade semelhantes. A minha reflexão não é sobre o que há de melhor aqui do que acolá, mas sobre como o fator local influi em casos de guerras interplanetárias (!?). Se a Terra for invadida, devemos lembrar que não há forma de vida mais sábia que a nossa para tirar proveito do campo de batalha. Neste caso, a variável “dono da casa” influi muito, não havendo motivo para tanto receio.

Penso que esse sentimento de inferioridade inerente ao pensamento humano tem a ver com a sensação de fracasso perante as próprias dúvidas e vontades ainda não respondidas e realizadas. Assim como pintar os ETs como malvadões que querem roubar nossos recursos naturais é um auto-retrato da própria índole do homo sapiens, ou seja, muito do que imaginamos tem fundamento nenhum e diz muito mais a respeito de nós mesmos do que do mundo lá fora.

Bom, expus minha reflexão e termino com a cena que me veio à mente ao final do pensamento, que é algo como uma manchete de jornal ou imagem televisiva: em meio a ruínas e defuntos, os yankees gritam “viva o team america!”, e o brasucas bradam timidamente: “apoiado! ... mas nós ajudamos um pouquinho”, mas isso já é outro papo.



Vitrola: 2001

terça-feira, 5 de fevereiro de 2008

Da Ciranda Tristonha

No aperto das paredes
Por trás das grades das janelas
Entre incansáveis inquisidores
Que não deixam uma fresta aberta

Às vontades e desejos
Deslumbramento das volúpias
No rufar dos tambores
E nos encantados cortejos
Entre sorrisos e respostas dúbias
Por trás de mascarados amores

As bandinhas passam pelos olhos
Através da pequena janelinha
Da sala, dos quartos, da cozinha
Agitando colombinas e pierrôs
Que saracoteiam em sintonia
De uma alegria sincera e livre

E a alma aprisionada em melancolia
Cerceada por arrebites
Desprovida de autonomia
Apega-se a uma colombina
Vivendo com ela sua paixão
Ou desilusão

Chora pelos encontros e desencontros alheios
E também por sua solidão
De emoção os olhos ficam cheios
E os lábios cansados de pedir permissão

Os guardiões não percebem
Que de tanto quererem satisfação
Ela se esvai da alma pequenina
Que aos poucos perde sua identificação
Por não saber viver sem alegrar o coração




Vitrola: Todo carnaval tem seu fim

sábado, 2 de fevereiro de 2008

Da Genética dos Sexos

Os homens têm se vangloriado ainda mais perante as mulheres desde que se descobriu que eles possuem milhões de neurônios a mais do que elas. Porém, muitas vezes, passa despercebido o fato de o cromossomo Y ser um fracasso. Sim, um fracasso. Não que eu desconheça as faculdades dos genes que o compõem, mas temos que admitir que, além de eles serem pouquíssimos, não servem pra muita coisa útil – excetuando-se a procriação. Convenhamos que desenvolver milhares de pelos corporais, músculos, excesso de glândulas sudoríparas... não é lá muito vantajoso, ainda mais em dias que em que o trabalho braçal é cada vez menos valorizado, e as armas de fogo suplantaram as pancadas. O que seriam deles sem um X?

Ainda, tenho um palpite: algum locus gênico do Y deve conter informações que apontem para o desenvolvimento de uma natural aptidão para a cultura inútil e a criancice. Não que isso seja ruim, mas é um talento inato do sexo masculino as piadinhas cotidianas, a invenção de apelidos, a galhofa das meninas, as pegadinhas infames. É algo tão espontâneo e instantâneo que eu confesso ter inveja às vezes. Em qualquer grupinho de meninos, de qualquer faixa etária, sempre há muita gargalhada, normalmente de coisas banais; mas que são engraçadas, ah isso são.

O que é difícil entender é como esses seres que parecem tão bobos se julgam – e de certa forma são – os dominadores da humanidade. Será que as mulheres têm X em excesso? Proponho uma outra análise. Os homens acusam as mulheres de serem falsas, dissimuladas, malvadas e que, enquanto eles se divertem, elas ficam difamando os outros – principalmente as outras. No entanto, lanço a tese de que o sexo feminino apresenta, na verdade, a forma mais inteligente da vileza. Quer uma forma de expressão mais perspicaz que aquele olhar maligno e aquele sorrisinho maldoso – mas não malicioso (Y)? Impossível dizer que a brutalidade, a violência física estimulada pela testosterona é superior em genialidade que a afiada língua feminina. A maldade existe, sempre existirá; fato. Agora, se é para ser vil, que seja de forma inteligente.

A humanidade cada vez mais se distancia da passionalidade e caminha ao encontro da razão. As mulheres são freqüentemente acusadas de agirem pela emoção, irracionalmente, mas o que significa resolver conflitos em socos e pontapés? É uma brincadeira – séria –, mas cá tenho com meus botões que eles só dominaram o mundo porque, na pré-história e durante muito tempo, venceu aquele que possuía maior força física. No plano das idéias, homens e mulheres no mínimo empatam, eles com seu cromossomo Y e elas com milhões de neurônios a menos.


Vitrola: Pagu


quinta-feira, 31 de janeiro de 2008

Da Casa Pequena ou Do Cubículo

Pingue-pongue
Bate no quarto,
Na sala, no chuveiro,
No armário
Por todos os lados

Aqui uma televisão grita
Acolá se pede silêncio
Aqui acolá
Aqui acolá, não tem dois passos

De repente é o liqüidificador
Que quer falar mais alto
O grito de gol não deixa barato
Acompanhado de brados e urros
Que a ele se unem desvairados

Os livros, mudos que são,
Ninguém neles presta atenção
Tem tanto a falar
Mas conseguem a ninguém obrigar

Da sua vontade
Ninguém abre mão
Eu quero falar,
Eu quero dormir
Sai daí já!

E assim a bolinha
Bate pra cá, bate pra lá
Em constante rotação
Enquanto as letras choram
com tamanha desconsideração




Vitrola: Casa Pré-fabricada

terça-feira, 29 de janeiro de 2008

Do Amor Descorrespondido

O pranto do amor
Aperta o coração
Faz-nos sentir sem chão
Metamorfose do horror?

Não, o sofrimento do apaixonado
Não é como a dor do pé quebrado
Importuna, esta só quer machucar
Fazendo com que só desejemos dela se livrar

A lástima do sentimento
É a dor da felicidade
Carregada das lembranças de contentamento
E dos sonhos da posteridade

Alma tocada
No mais fundo do ego
Acolhe preocupada
O amor em nó cego

Levando-o junto na solidão
Transformando o sonho em realidade
De um casal feliz na escuridão
Da apaixonada vontade

De viver o amor interrompido,
A felicidade certeira e distante
Do céu colorido
E do olhar brilhante

O amor descorrespondido
Oferece alegria em meio a tepidez
A saudade do não acontecido
O estado de graça na realidade da sordidez

Enquanto o coração chora
A alma se enamora,
Mesmo na solidão
Se vive uma paixão



Vitrola: Você não me ensinou a te esquecer